Oxumaré

Oxumaré é a serpente-arco-íris; suas funções são múltiplas. Diz-se que ele é um servidor de Xangô e que seu trabalho consiste em recolher a água caída sobre a terra, durante a chuva, e leva-la de volta às nuvens… mas achamos nesta definição um certo tom educativo e descritivo dos fenômenos da natureza para escolas primárias ocidentais. 
Oxumaré é a mobilidade e a atividade. Uma de suas obrigações é a de dirigir as forças que produzem o movimento. Ele é o senhor de tudo o que é alongado. O cordão umbilical, que esta sob seu controle, é enterrado, geralmente com a placenta, sob uma palmeira que se torna propriedade do recém-nascido, cuja saúde dependerá da boa conservação dessa árvore. Ele é o símbolo da continuidade e da permanência e, algumas vezes, é representado por uma serpente que se enrosca e morde a própria cauda. Enrola-se em volta da terra para impedi-la de se desagregar. Se perdesse as forças, isso seria o fim do mundo… Eis aí uma excelente razão para não se negligenciar as suas oferendas. 
Oxumaré é, ao mesmo tempo, macho e fêmea. Esta dupla natureza aparece nas cores vermelha e azul que cercam o arco-íris. Ele representa também a riqueza, um dos benefícios mais apreciados no mundo dos iorubás. 
Certas lendas de Ifá contam que “ele era, outrora, um babalaô ‘filho-do-proprietário-da-estola-de- cores-brilhantes’. Começou a vida com um longo período de mediocridade e mereceu, por essa razão, o desprezo de seus contemporâneos. Sua chegada final à glória e ao poder é simbolizada pelo arco- íris, que, quando aparece, faz as pessoas exclamarem: ‘Ora, ora, eis Oxumaré!’ Isso mostra que ele é universalmente conhecido e, como a presença do arco-íris impede que a chuva caia, demonstra também a sua força”. 
Uma outra lenda: “Este mesmo babalaô Oxumaré vivia duramente explorado por Olofin, o rei de Ifé, seu principal cliente. Consultava-lhe a sorte de quatro em quatro dias, mas o rei remunerava seus serviços com extrema parcimônia e Oxumaré viva num estado de semipenúria. Felizmente para ele, foi chamado por Olokum, rainha de um reino vizinho, cujo o filho sofria de um mal estranho: não conseguia se manter em suas próprias pernas, tinha crises, nesses momentos, rolava sobre as cinzas ardentes do fogareiro. Oxumaré curou a criança e voltou a Ifé repleto de presentes, vestido com riquíssima vestimenta do mais belo azul. Olofin, espantado por este repentino esplendor e lastimando sua avareza passada, rivalizou em generosidade com Olokum, dano também a Oxumaré presentes de valor e oferecendo-lhe uma roupa de uma bela cor vermelha. Oxumaré ficou rico, respeitável e respeitando, sem imaginar que tempos melhores ainda o esperavam. Olodumaré , o deus supremo, sofria da vista e mandou chamar Oxumaré; uma vez curado por seus cuidados recusou-se se separar dele. Desde essa época, Oxumaré reside no céu e só de tempos e tempos tem autorização de pisar na terra. Nessas ocasiões, os seres humanos tornam-se ricos e felizes”. 
O lugar de origem desse orixá, como Obaluaê e Nanã Buruku, seria em Mahi no ex-Daomé, onde é chamado Dan. As contas azuis, segi para os iorubás, são aí chamada Danni (“excremento-de- serpente”) na língua fon. Segundo a tradição, essas contas são encontradas sob a terra, onde elas teriam sido evacuadas pelas serpentes; diz-se que elas têm um valor igual ao próprio peso em ouro. 
Dan desempenha, entre os mahi e os fon, um papel mais importante que Oxumaré para os iorubás, como divindade que traz a riqueza aos homens. 
O orixá da riqueza é chamado Aje Sàlugá na região de Ifé, onde se diz que chegou entre os dezesseis companheiros de Odùduà. Ele é simbolizado por uma grande concha.
Os oríkì de Oxumaré são bastante descritivos:
“Oxumaré fica no céu
Controla a chuva que cai sobre a terra.
Chega a floresta e respira como o vento.
Pai venha até nós para que cresçamos e tenhamos longa vida”

De: Orixás de Pierre Verger